“Bumbum Mexer” não nasceu de uma estratégia, nem de uma tendência a ser seguida. A nova música da cantora e compositora Manda, que estampa a nova capa da Backstage Mag com uma entrevista exclusiva, surge de um ponto de ruptura: o cansaço de tentar existir como artista em um sistema que transforma expressão em performance e números em destino. Em um cenário marcado por algoritmos, viralizações instantâneas e expectativas cada vez mais estreitas, Manda escolhe expor o incômodo, e transformá-lo em linguagem.
Em entrevista, a cantora fala sobre o momento em que percebeu que precisava colocar essas inquietações no papel, o impacto emocional e financeiro de ser uma artista independente e o desafio de sustentar uma identidade própria sem sucumbir às fórmulas de sucesso rápido. Entre humor, ironia e crítica direta, ela revela como “Bumbum Mexer” se tornou um desabafo necessário e, ao mesmo tempo, um gesto de retomada criativa.
Mais do que apresentar um novo single, Manda reflete sobre o papel da arte em um mercado cada vez mais orientado por performance digital, revisita suas origens e antecipa uma fase marcada por ousadia, liberdade e coragem. Uma conversa franca sobre criar, resistir e seguir dançando, mesmo quando o ritmo imposto não é o seu.
Confira agora o bate papo completo:
“Bumbum Mexer” nasceu de um incômodo genuíno. Em que momento você percebeu que essa música precisava existir?
Era 2023 e eu tava lutando pra continuar fazendo música. Lutando contra os mal pagamentos das plataformas mesmo tendo +100mil ouvintes mensais, lutando contra o desânimo que todo esse cenário de ser artista independente às vezes gera.
Eu peguei meu violão e essa pergunta apareceu primeiro: será que vão ouvir o que eu tenho pra dizer se eu não quiser rebolar minha bunda? E daí eu entendi que eu precisava colocar isso tudo pra fora.

Como foi transformar esse desabafo em uma faixa que mistura ironia, crítica e humor?
Foi curioso. Eu sou uma pessoa naturalmente engraçada e um pouco irônica rs. Mas eu tive bastante receio de as pessoas entenderem a crítica de forma errada. De pensarem que eu tô criticando um gênero musical específico, quando na verdade a crítica é sobre um sistema que pressiona o artista a reproduzir o que “dá certo” e o que viraliza.
Há algum verso específico que você considera o coração da música? Por quê?
“O som do meu tambor não é de fazer Bumbum Mexer”. Essa frase carrega tudo: a ironia misturada com o medo e ao mesmo tempo carregada por essa pressão toda que eu sinto.
A faixa traz uma crítica direta às “fórmulas de sucesso rápido”. O que mais te inquieta na lógica algorítmica da indústria atual?
O que mais me inquieta é perceber que a lógica algorítmica colocou o dinheiro no centro de tudo de um jeito ainda mais explícito. Eu sei que música é negócio, sempre foi. Mas até alguns anos atrás as gravadoras ainda buscavam algo além de números: havia um mínimo de critério artístico, uma aposta em repertório, identidade, construção de carreira. O próprio nome do cargo “A&R” já diz isso.
Hoje parece que só existe a régua da viralização. É o sucesso meteórico, o hit de 15 segundos, o número pelo número. E o mais estranho é que a gente nem escolhe mais o que consome, o algoritmo faz essa triagem por nós. A sensação é de que estamos sempre correndo atrás de uma lógica que não necessariamente tem a ver com música, ou com arte, mas com performance digital.
No fim, o que me inquieta é ver que, se antes o mercado era um negócio com arte dentro, agora corre o risco de virar só um negócio embalado como arte. E isso empobrece todo mundo: quem cria e quem consome.
A música começa crua e se transforma em um “funk de pelúcia”. Como vocês chegaram nesse contraste?
A ideia do contraste veio dessa vontade de brincar com a ironia. Eu quis trazer o funk pra música porque, como uma artista que nasceu e cresceu na periferia do Rio de Janeiro, minha crítica nunca foi ao gênero em si, muito pelo contrário, mas ao sistema que transforma tudo em fórmula.
E tem algo de simbólico em dizer que “o som do meu tambor não é de fazer bumbum mexer” ao mesmo tempo em que eu tento fazer isso, rs. Esse “funk de pelúcia” nasce daí: uma forma de mostrar que, mesmo não sendo exatamente o meu som, eu tô dialogando com esse universo. É quase uma metáfora sonora do esforço de se encaixar num molde que nunca foi o meu. Uma pressão que eu já senti muitas vezes.
Se você pudesse resumir “Bumbum Mexer” em uma frase para alguém que nunca te ouviu, qual seria?
Essa música é a minha tentativa corajosa de dançar minha própria música, num sistema que quer que todo mundo dance igual.

“Bumbum Mexer” abre uma nova leva de lançamentos. O que podemos esperar dessa sequência?
Uma Manda mais ousada, autêntica e corajosa. De peito aberto, sem medo de ser quem eu sou.
Qual sua memória favorita de todo o processo de backstage de “Bumbum Mexer”?
A música foi inteiramente produzida entre o home studio do Enzo Martin em Canoas, RS e o meu em São Paulo. Nunca tinha feito um single de um jeito tão próximo, tão mão na massa. Teve algo de brincar e experimentar. O que tornou tudo ainda mais simbólico e especial.


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