Os riscos de culpar a mãe pelos nossos problemas emocionais

O médico e terapeuta João Borzino diz que “A Culpa É da Mãe” é um frase perigosa que precisa ser desconstruída

É certo: quando a vida desanda, muita gente solta a frase *“a culpa é da mãe”. Os traumas vêm de lá, a insegurança veio de lá, o padrão repetitivo de relacionamento ruim… adivinha? Veio de lá também. Mas será que dá mesmo pra resumir tudo assim? Ou será que essa frase, apesar de parecer um desabafo legítimo, é uma armadilha emocional?

O médico e terapeuta João Borzino diz que culpar a mãe é fácil. E por isso mesmo, perigoso. “Atribuir a culpa dos nossos problemas a quem nos criou parece lógico — afinal, foi na infância que tudo começou. E quem tava lá o tempo todo? A mãe. Mas essa lógica é traiçoeira. Quando você faz isso, coloca o poder da sua vida nas mãos do passado. Mais grave ainda: você se infantiliza. Passa a viver com a sensação de que nada do que acontece agora é sua responsabilidade”, destaca.

Segundo ele, atribuir a culpa à mãe é confortável, mas é uma prisão. Enquanto você estiver mais preocupado em encontrar culpados do que em buscar soluções, não há terapia, livro ou curso que resolva.

“Porque não é uma questão de entender o passado — é de assumir o presente. Mães erram. E às vezes, erram feio. Isso não quer dizer que a mãe foi perfeita. Longe disso. Tem mãe que sufoca, que controla, que manipula usando culpa. Tem mãe que ama demais — e por isso não solta. Ou que projeta nos filhos os próprios medos, frustrações e desejos não realizados”, pondera.

João Borzino enfatiza que esse tipo de criação deixa marcas, sim. E precisa ser olhado com seriedade. Ele afirma que ninguém sai ileso de uma infância onde amor vira controle, e carinho vem junto com ameaça velada.