Pris na Backstage Digital | Ed. 29

A cantora e compositora paulistana acaba de lançar novo single, uma espécie de bônus track para seu primeiro ábum de carreira, lançado no final de 2024; confira entrevista

E se a chave para seguir em frente com leveza for, na verdade, reavaliar e ‘pegar mais leve’ consigo mesmo? É com essa pergunta embutida em melodia que a cantora e compositora Pris, que estampa a nova capa da Backstage Digital, apresenta seu novo single “Compassion”. Misturando o lirismo suave do jazz com a urgência e a cadência do rap, a faixa chega como um encerramento simbólico do álbum “Multidimensional”, conectando os extremos da jornada emocional da artista com sensibilidade e maturidade. O clipe do single tem estreia marcada para o dia 30 de maio, ao meio-dia, no YouTube da artista.

Em entrevista à BACKSTAGE, a artista fala mais sobre a fusão entre o jazz e o rap, inspirações em ‘inferninhos’ de Jazz em Londres e Nova York, além de contar sobre o processo de encerramento de seu primeiro álbum. Confira:

Pris, “Compassion” encerra simbolicamente o ciclo de Multidimensional. Como foi esse processo de entender que essa faixa seria o ponto final ideal do álbum?

Na verdade, foi um processo meio orgânico. Quando eu concluí o álbum, eu ainda não sabia que faria uma 9ª faixa e, muito menos, que eu a lançaria meses depois de o disco ter sido lançado. Mas quando comecei a planejar os lançamentos das músicas já prontas eu senti que ainda tinha algo mais a dizer e eu também queria muito ter uma música com um riff marcante de saxofone, pois não havia utilizado esse instrumento que eu tanto amo no restante do álbum. Eu senti que faltava uma mensagem que unificasse os aprendizados que eu tive ao longo dos anos que culminaram nas composições de ‘Multidimensional’ e o tema da autocompaixão, que era algo que eu estava necessitando especialmente naquele momento, me pareceu perfeito. Além disso, achei muito simbólico que a primeira música fosse sobre autodisciplina e uma vontade de performar na vida e a última viesse como um alívio e um fator de equilíbrio para toda a tensão que essa mesma disciplina havia causado em mim. É como se eu saísse dos extremos e finalmente chegasse ao caminho do meio ao final do álbum.

A fusão de jazz e rap traz uma atmosfera muito específica. Como surgiu essa ideia de unir gêneros tão distintos e como você encontrou o equilíbrio entre eles?

A resposta é bem simples: eu já era uma ouvinte assídua desse estilo fusion, que já existe desde o final da década de 80, pois eu adoro os dois estilos separadamente. A junção deles me soa paradoxal e isso é uma boa representação de como eu me sinto boa parte do tempo em minha vida. Eu sempre fui fã de ouvir música antiga, me fascinando pela qualidade e complexidade das composições de jazz mesmo com os poucos recursos da época. E por outro lado, sempre gostei de estar ligada no contemporâneo. Eu nunca fui totalmente nostálgica e nem totalmente moderna, então a mistura fez bastante sentido. O jazz é improviso e inovação em sua própria época e o rap/hip hop também. Inclusive um inspirou a criação do outro, por isso acho que o equilíbrio vem fácil. 

Você menciona que a música reflete sobre “uma disciplina sem afeto”. Em que momento você percebeu que precisava transformar essa rigidez em compaixão?

Eu sou uma fiel defensora do hábito de, de tempos em tempos, fazer um inventário de quem eu estou sendo como pessoa e que resultados isso vem me gerando. Acho que como a vida é movimento e dinamismo, precisamos sempre checar se existe algum recálculo de rota que se faz necessário naquele momento de nossa trajetória, então foi isso que eu fiz. Uns anos atrás eu entendi que precisava muito desenvolver uma disciplina que nunca tive ou minha vida não iria para frente. Como eu não era nem um pouco disciplinada, sinto que precisei ir para o outro extremo para de fato conseguir fazer uma mudança. E foi isso que eu tentei fazer, mas acho que acabei me endurecendo e fechando o coração nesse processo e fiquei um tempo assim. 

Eu fui para o Rio de Janeiro, para gravar essa música em agosto de 2024, no mesmo final de semana que lançou o primeiro single do álbum, “Discipline” e embora eu já soubesse a atmosfera que eu gostaria que a música tivesse, eu não tinha ainda nem uma letra e nem um tema para ela. Quando cheguei no Rio, comecei a refletir sobre minha vida e o que eu vinha sentindo nos últimos tempos, tendo vivido tudo o que vivi desde que comecei a conceber o disco e o nome “Compassion” veio na minha cabeça antes de existir o resto da letra. Na semana anterior, eu havia completado 31 anos e estava mesmo muito reflexiva sobre as minhas realizações na vida. Já há algum tempo, eu vinha sendo um pouco dura demais comigo mesma, cobrando um sucesso que eu achava que já teria alcançado nessa idade, mas que era baseado em conquistas superficiais e puramente materiais. Ao fazer isso, eu estava deixando de considerar tudo o que eu havia evoluído e me tornado como pessoa. Então quando estava indo para o estúdio, andando a pé em Copacabana, a letra começou a vir na minha cabeça e eu comecei a escrever enquanto andava. Foi naquele mesmo momento que eu entendi que precisava encontrar um equilíbrio entre saber exigir de mim o meu melhor e manter o coração aberto no processo. Me corrigir quando necessário, mas fazer isso de forma amorosa. 

Foto: Reprodução / ZAZ Conteúdo

Sobre o som de ‘inferninho’ de jazz como referência, que experiências ou lugares reais inspiraram essa ambientação intimista da faixa? 

Eu frequentei vários lugares aqui em São Paulo como por exemplo o jazz nos fundos em São Paulo (que não sei se existe mais), que trazem esse tipo de ambientação e  mas quando me inspirei para escrever a música pensei naqueles icônicos inferninhos como o Ronnie Scott’s Jazz Club em Londres ou o Smalls Jazz Club em Nova York.  

Você sente que o público está cada vez mais aberto a canções que abordam temas como autocompaixão e vulnerabilidade de forma tão direta?

Eu acho que de forma geral as pessoas estão recorrendo mais ao autoconhecimento como forma de melhorar a qualidade de vida e com essa realidade em que vivemos que é cheia de telas, parece que a necessidade que as pessoas tem de se conectar se torna cada vez maior, pois somos seres relacionais. E se tem algo que conecta é a vulnerabilidade. Ninguém mais tem tempo para fingir perfeição. A autocompaixão é um tema que acho super atual e importante, pois as pessoas ao mesmo tempo em que cada vez mais se importam com a saúde mental e emocional parecem muitas vezes se perder em meio a tanto ruído e estímulos. Nos desconectamos do nosso corpo e consequentemente acabamos perdendo a sensibilidade que ajuda a entender quando precisamos parar de nos cobrar tanto ou quando de fato precisamos trabalhar duro. Então, tornar-se uma pessoa que genuinamente cuida de si se mostra cada vez mais necessário.

O que podemos esperar dessa experiência sensorial nos palcos? Haverá elementos do clipe ou da atmosfera dos estúdios no show? 

Nos palcos eu sempre procuro levar comigo a atmosfera que o álbum como um todo parece evocar (pelo menos para mim), que é a de uma conexão entre artista e público causada pelo caráter interativo do show, da performance que procuro fazer que é sempre acompanhada de uma live band, uma energia elevada (eu tento pelo menos) e autoconhecimento pois eu uso sempre alguns momentos para trazer explicações curtas das letras que façam o público refletir sobre aqueles aspectos em suas próprias vidas. É pra ser uma experiência que envolva o máximo de sentidos possível. 

Qual a relação entre a sonoridade dessa música e as imagens do clipe, que são mais solares?

PRIS: Essa música, para mim, tem uma atmosfera mais solar. A mensagem é positiva e incentiva as pessoas a olharem mais para si e realmente se perguntarem se elas têm se tratado como tratariam os seus melhores amigos. Temos compaixão com o outro, mas quando realmente estendemos essa mesma compaixão a nós? Eu vejo essa palavra como um afago, como uma emoção que traz leveza e compreensão, por isso queria que o clipe evocasse uma sensação parecida. 

Se pudesse resumir a mensagem de “Compassion” em uma frase que gostaria que o ouvinte levasse para a vida, qual seria?

Sempre dê o seu melhor em tudo o que fizer, mas lembre-se de garantir que este melhor inclua também a forma que trata a si mesmo.

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